sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Brasil na Netflix: 3%!

Depois de Supermax, não poderíamos deixar de mencionar e enaltecer a primeira série brasileira produzida pela Netflix: 3%. Mas antes disso precisamos dizer que a série foi criada por Pedro Aguilera lá em dois mil e nove, como projeto de estudantes do curso de Cinema da USP, que por meio do YouTube veiculavam a mesma como websérie, e após ser recusada por inúmeros canais de TV, a Netflix acolheu o projeto. Ou seja, uma websérie do YouTube tornou-se a primeira produção brasileira da maior provedora global de filmes e séries do mundo!!!


Sobre o domínio da Netflix, produzida por César Charlone, a série estreou em vinte e cinco de novembro de dois mil e dezesseis, e assim como Black Mirror, 3% leva como clímax o futuro tecnológico da humanidade, sobre as tendências da tecnologia em um futuro não tão distante. 3% trabalha com um cenário pós-apocalíptico, mostrando um determinado lugar do país completamente devastado, intitulado de Continente, um lugar decadente, totalmente o oposto do Maralto, lugar abundante e maravilhoso. Assim que completa seus vinte anos, todo jovem tem direito a participar de um Processo, que tem como função selecionar os jovens para fazerem parte dessa vida abundante e maravilhosa. E é aí que 3% faz jus ao nome da série, porque apenas essa porcentagem de candidatos será aprovada durante esse Processo, tendo seus limites físicos e os psicológicos testados de várias formas possíveis e impossíveis. 

Você é o criador do seu próprio mérito. Aconteça o que acontecer, você merece!” – Ezequiel 

Essa divisão de classes, Continente e Maralto, junto ao fato de uma baixa porcentagem de pessoas podendo ter acesso à essa sociedade perfeita, claramente causaria um certo atrito, que na série é algo defendido por um determinado grupo: a Causa, movimento que luta por direitos iguais, tendo como objetivo acabar com o Processo, infiltrando candidatos no mesmo, para que possam destruir o sistema internamente.

O curioso, é que nenhum candidato sabe ao certo o que acontece no Maralto, se o que falam é verídico, creem apenas em suposições, nutrindo uma visão paradisíaca e acreditando nela. Ainda no piloto da série, vemos que se o candidato passa pelo Processo, o mesmo nunca mais tem contato com a família que deixou no Continente, e também que nem todos os candidatos que são reprovados voltam pra casa, por não serem capazes de encarar o fato de estarem condenados eternamente a miséria, por fim suicidando-se. Que coisa de louco, bicho.

Mas não acho que o lado de lá esteja interessado em alguém que implore” – Joana 

Fazendo uma analogia com a realidade, vocês hão de convir com a gente que o Continente, Processo e Maralto fazem referência a uma realidade não muito distante da que vivemos, não é mesmo? Fazendo jus a aquele ditado: uns com tanto e outros com tão pouco. Mas é aquilo, vida que segue, ou melhor, processo que segue. 

Michele, Marco, Joane, Rafael e Fernando
Dentre todos os candidatos a história vai se desenvolvendo sobre a vida de Michele (Bianca Comparato), Fernando (Michel Gomes), Rafael (Rodolfo Valente), Marco (Rafael Lozano) e Joana (Vaneza Oliveira), personagens estes diversificados, representando muito bem a real sociedade brasileira. E além dos já citados, o elenco da série é composto por nomes como: João Miguel, Celso Frateschi, Mel Fronckowiak, Viviane Porto e Zezé Motta.

Claro que 3% não é uma série 100% perfeita, trocadilho porque sim, mas é aquela série que consegue passar certas informações, e além disso dar certa lição de moral, com seus discursos, fazendo altas referências sobre a situação política do país. A série tem tudo pra bombar, ainda mais. Sem mencionar a fotografia, a premissa, os efeitos visuais e o cenário da série. Em dezembro de dois mil e dezesseis a Netflix renovou a série para sua segunda temporada, e estamos ansiosos para saber a continuação dos oito episódios da primeira temporada. E claro que não poderíamos perder a oportunidade de zoar com os gringos que agora tem que assistir a série legendada e/ou dublada. Parece que o jogo virou, não é mesmo?

"Faço o possível para escrever por acaso. Eu quero que a frase aconteça. Não sei expressar-me por palavras. O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio. Expressar-me por meio de palavras é um desafio. Mas não correspondo à altura do desafio. Saem pobres palavras." Clarice Lispector